Homília
do Pe. Fantico Borges, CM – Sexta-feira da paixão do Senhor.
Adoremos
a Santa Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
A liturgia
desta sexta-feira Santa é rica e dramática em todas as suas expressões. Uma das
pessoas da Santíssima trindade morreu por sua criatura. Deus-Filho morreu por
nós pecadores. Por nossa culpa, por nossos pecados Deus experimentou a morte. Nossa
desobediência fez cair sobre Deus Filho a mortalidade que sobreveio por consequência
de nossos pecados.
Deus que nos criou
para seu amor, para vivermos em relação de justiça e santidade com ele, não
permitiu que ficássemos abandonados, entregue ao poder do maligno. Por isso,
Jesus se encarnou e demonstrou quem é o homem diante de Deus e o que o pecado
provocou no ser humano. Na narrativa da Paixão, escutamos pela boca de Pilatos,
após o flagelo que Jesus enfrentou com os guardas romanos, a expressão emblemática:
“Et Homo”, ou seja, eis o homem! Este homem flagelado, chagado, feridos,
cuspidos, esbofeteados, ensanguentado, sem aparência humano, sem beleza alguma
é a imagem real do homem decaído! É assim que ficamos depois do pecado
original. Esta imagem é o resultado do pecado na pessoa humano. O fruto do
pecado é a desconfiguração do homem como Imago Dei. O pecado tornou o ser
humano sem aparência divina, chagado em sua alma, sem referência com seu artífice.
E mesmo assim aos gritos o povo exclama: Crucifica-o! Crucifica-o! Veja como o
pecado nos cega! Ficamos insensíveis diante da dor alheia. A crueldade que
levou Jesus a cruz é a mesma que continua levando muitos de nossos irmãos e irmãs
à morte. Hoje não tem mais a cruz de madeira, mas a violência das drogas, das
armas, da corrupção política, econômica e social. O pecado ainda nos pesa na
alma.
Diferentemente
do maligno que não quer nosso bem Deus continua a nos amar. O Senhor nunca
desiste de nós. Mesmo que para isso Ele tenha que enfrentar a humilhação da
Cruz e o escândalo da morte. Neste sentido, Jesus é o modelo perfeito de homem
que na obediência incondicional a Deus realiza em tudo a vontade divina. Assim Jesus
é a mais plena imagem do ser humano pensado por Deus.
A Paixão de
Cristo é o ápice da manifestação da paixão de Deus pela humanidade. Deus morre
na Cruz pela humanidade pecadora. Oh doce lenho que sobre si sustem o Amado de
nossa alma. Que mistério glorioso: um Deus que se esvazia para fazer viver a
sua criatura.
O Filho
eterno, o Filho que viveu sempre na intimidade do Pai, o Filho infinitamente
amado pelo Pai, aprendeu no seu caminho neste mundo, aprendeu a descobrir, cada
dia, a vontade do seu Pai e a ela obedecer! Mais ainda: esta obediência lhe
custou lágrimas, fê-lo sofrer! Toda a existência do Senhor Jesus foi uma total
dedicação ao Pai, uma absoluta entrega, no dia a dia, nas pequenas coisas...
Jesus foi procurando e descobrindo a vontade do Pai nos acontecimentos, nas
pessoas, nas Escrituras... e, pouco a pouco, foi percebendo que esta vontade ia
levá-lo à cruz. E ele, nosso Salvador, “com forte clamor e lágrimas”,
foi se entregando, se esvaziando, se abandonando... É impressionante pensarmos,
mas toda a vida do Filho de Deus neste mundo foi uma busca pobre e obediente da
vontade do Pai, entre clamor e lágrimas.
A agonia no
Horto já exprime sua situação dramática: “Abba! Ó Pai! Tudo é possível para
ti: afasta de mim este cálice; porém não o que eu quero, mas o que tu queres!”
(Mc 14,36). Para o Senhor, como para nós, a vontade do Pai tantas vezes
pareceu enigmática, e ele teve que discerni-la e descobri-la entre trevas
densas e dolorosas! Mas, ao fim, como é comovente a entrega total do Cristo: “Pai,
em tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23,46).
Como não
ficar extasiado com esse homem-Deus que ensinou como homem o que devemos fazer
para alcançarmos a Deus. Adorar a cruz é
encontrar em Cristo um caminho seguro para nossa salvação. Seguir os passos do
senhor e fazer em tudo a vontade de Deus. Peçamos a Jesus que nos que caminhe
conosco nesta via-cruzes da vida em jamais duvidar do Poder da justiça divina
que nunca nos desampara. Bendita e louvada seja a paixão do Redentor, que por
nós sofreu o martírio, morreu por nosso amor!
Pe. Fantico Borges, CM
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