Homilia do Pe.
Fantico Borges, CM – XVII Domingo do
Tempo Comum – Ano B
Ele
nos dará o Pão do Céu
Na liturgia de hoje Jesus realiza em sua própria pessoa
a promessa do Deus do antigo Israel de enviar um Profeta. Após o milagre da
multiplicação dos pães aqueles homens afirmavam ser Jesus o Profeta esperado. Ora,
a profecia fala de um profeta com grande poder e prodígios. No Israel antigo
Eliseu foi capaz de em nome de Deus alimentar cem homens com vinte pães. Agora Jesus
alimenta 5 mil homens com cinco pães e dois peixes. Quanto maior é o poder mais
extraordinário é o milagre, lá estava a figura, aqui está a realidade; lá um
profeta, aqui O Profeta; lá um homem, aqui um Deus que se fez homem.
O relato de João deste domingo traz dois elementos
importantes que serão compreendidos com a leitura do capitulo seguinte ao lido
na missa de hoje. Aqui se fala de pão multiplicado para saciar a fome física,
no capitulo seguinte Jesus dirá ser Ele o verdadeiro pão decido do céu. A fome
humana é grande, a busca por saciar essa carência existencial faz, não poucas
vezes, as pessoas esquecerem o mais importante, o mais essencial. Aquele povo
vinha até Jesus porque viam muitos sinais e milagres que o Senhor realizava em
favor dos doentes. Corriam atrás da cura física, mas deixavam passar
despercebido o verdadeiro milagre: Deus está no meio de nós! Todavia, Deus sabe
das nossas necessidades, conhece nossas carências e fragilidades, e como um pai
amoroso antecipa-se diante da nossa falta de entendimento. Jesus viu aquela
multidão e disse a Felipe: vamos dar de comer a essa gente! O senhor tem
compaixão em ver o povo faminto e quer saciar sua fome. Qual é a fome que temos
diante de Deus nos dias de hoje? O que buscamos na missa dominical?
Nosso Senhor multiplicou o pão no deserto, em Caná
ele transformou a água em vinho. Assim os habituava ao seu pão e ao seu vinho,
até o momento em que daria o seu corpo e o seu sangue como alimento aos homens.
Explica-nos Santo Efrém que ele fez com que provassem um vinho e um pão
passageiros para ocasionar neles o desejo do seu corpo e sangue vivificantes. Diz
Efrém: que “ele deu-lhes com liberdade estas pequenas coisas, para que
soubessem que o seu dom supremo seria dado de forma gratuita. Deu-lhes gratuitamente,
embora pudessem comprá-los com o que tinham, para que eles compreendessem que
não lhes exigiria pagamento por uma dádiva que não tem preço; de fato, se
pudessem pagar o preço do pão e do vinho, certamente não poderiam pagar o preço
do seu corpo e do seu sangue.” Na mesa de banquete da vida, não tem lugar para
desigualdade social, cultural e econômica; aqui no altar do Senhor todos se
alimentam, ficam saciados e ainda sobra.
O milagre daquela tarde junto do lago manifestou o
poder e o amor de Jesus pelos homens. Poder e amor que hão de possibilitar
também, ao longo da história, que o Corpo de Cristo seja encontrado, sob as
espécies sacramentais, pelas multidões dos fiéis que O procurarão famintas e
necessitadas de consolo. Como diz São Tomás de Aquino: “… tomam-no um, tomam-no
mil, tomam-no este ou aquele, mas não se esgota quando O tomam…”. Diz Santo
Efrém que Jesus “não multiplicou o pão tanto quanto podia, mas o suficiente
para os convidados.” O milagre não alcançou a medida de seu poder, mas foi de
acordo com a fome dos famintos. Realmente, se o milagre fosse medido por seu
poder, seria impossível avaliar-se o fruto deste sinal. Isso deixa claro que as
coisas de Deus transcende nossa mente, nosso desejo. As vezes, vamos pedir e
não sabemos, pedimos o que não precisamos. O senhor sabe o que precisamos e
sacia nossa fome e sede.
O outro fato importante deste relato de hoje é a associação
feita com a páscoa e a eucaristia cristã. O relato do Milagre começa com as mesmas
palavras e descreve os mesmos gestos com que os Evangelhos e São Paulo nos
transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26; Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor
11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação da misericórdia divina de
Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada Eucaristia, da qual o
Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6, 26 – 59). Assim o
interpretaram muitos padres da Igreja.
Salta-nos aos olhos a atitude dos começais após o milagre
se aqueles homens, por um pedaço de pão – embora o milagre da multiplicação
tenha sido muito grande –, se entusiasmam e Te aclamam, que não devemos nós
fazer pelos muitos dons que nos concedeste, e especialmente porque Te entregas
a nós, sem reservas, na Eucaristia ? O Concílio Vaticano II afirmou que o
sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã. Na Eucaristia
está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a
nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne
vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (L.G. 11 e PO. 5).
Na comunhão, recebemos Jesus, Filho de Maria, que
naquela tarde realizou o grandioso milagre. Na Hóstia, possuímos o Cristo de
todos os mistérios da Redenção: o Cristo de Maria Madalena, do filho pródigo e
da Samaritana, o Cristo ressuscitado dos mortos, sentado à direita do Pai. Esta
maravilhosa presença de Cristo no meio de nós deveria revolucionar a nossa
vida! Ele está aqui, conosco: em cada cidade, em cada povoado, em casa
capelinha, em cada eucaristia celebrada.
Jesus, realmente presente na Sagrada Eucaristia, dá
a este sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é
a doação máxima que Jesus Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito
de Deus por cada homem. Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a
si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a
Igreja renasce sempre de novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de
Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial por meio de
uma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Esse encontro eucarístico com a pessoal de Cristo
realmente e substancialmente presente nas espécies do pão e do vinho tem que
nos questionar no modo de vivermos esse encontro e o pós-missa. O encontro com
a eucaristia exigem de nós pensarmos nas varias fomes existenciais presente no
mundo atual: tais como a fome de paz, liberdade, segurança, solidariedade, fraternidade,
acolhida aos sofredores e pobres. A multiplicação dos pães questiona a má
distribuição dos recursos naturais, água potável e alimentos. Quem ver esse
milagre acontecer todo domingo na missa e o recado de Jesus para não deixar
estragar nada, deveria se inquietar com o fato de milhões de irmãos nossas que
morrem de fome e muitos milhões de quilos de alimentos todos os dias são jogado
no lixo.
Pe. Fantico Borges, CM
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