Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –
Solenidade de Corpus Christi 2018 Ano B.
Caminhemos todos junto rumo ao Reino.
A celebração de hoje busca
expressar a presença de Cristo como alimento na vida de seu povo. Por isso nos
perguntamos: qual é o significado próprio da Solenidade que celebramos hoje, o
corpo e Sangue de Cristo?
É a própria celebração quem
nos fala, no desenvolvimento de seus gestos fundamentais: antes de tudo estamos
reunidos ao redor do Altar do Senhor, para estarmos juntos em sua presença: em
segundo lugar, haverá uma procissão, ou seja, um caminhar com o Senhor, e por
fim o ajoelhar-se diante do Senhor, a adoração que tem início já na Missa e
acompanha toda a procissão, mas que culmina no momento final quando todos nos
prostraremos diante Daquele que se dobrou até nós e deu sua vida por nós. Vamos
nos deter brevemente sobre estes três comportamentos, para que seja realmente
expressão da nossa fé e da nossa vida.
O primeiro ato, portanto, é o
de reunir-se diante da presença do Senhor. É o que antigamente se dava o
nome de "Statio". Imaginemos por um momento que em toda Roma
não exista outro altar senão este, e que todos os cristãos da cidade tenham
sido convidados a reunirem-se aqui para celebrar o Salvador morto e ressuscitado.
Isso nos dá uma ideia de como era nas origens, em Roma e em tantas outras
cidades onde chegava a mensagem evangélica, a celebração Eucaristica: em cada
Igreja particular havia um só Bispo e ao redor da Eucaristia por ele celebrada,
se constituia a Comunidade, única, porque único era o Cálice abençoado e único
o Pão partido como ouvimos das palavras de Paulo na segunda leitura (Cor.
10,16-17). vem a mente uma outra expressão paulina: "Não existe mais
judeu, nem grego: nem escravo ou livre, porque todos somos únicos em Cristo
Jesus" (Gal 3,28).
Todos nós unidos na Eucaristia
somos um só coração, uma só alma! Com estas palavras se sente a verdade e a
força da revolução cristã, a revolução mais profunda da história humana, que se
experimenta ao redor da Eucaristia: aqui se reúnem pessoas de diversas idades,
sexo, condição social, ideias políticos, culturas distintas. A Eucaristia é um
ponto mais alto da comunhão cristã. Nela anelamos uma sociedade verdadeiramente
fraterna e comunal. Também aqui nesta celebração, nós não
escolhemos com quem nos encontramos, apenas viemos e estamos uns do lado dos
outros, tendo em comum a fé e o chamado a sermos um só corpo místico, unidos a um
único Pão, que é Cristo. Estamos unidos, apesar de nossas
diferenças culturais, profissionais, grau social, poder econômico. Todos filhos
e filhas de Deus, conscientes do poder e valor real do corpo de Cristo, podemos
tomar a fila da comunhão com o desejo de participar do banquete escatológico,
preparando-nos para a festa das eternas bodas do Filho Unigênito do Pai.
Esta desde os inícios tem sido
uma característica do cristianismo, realizada visivelmente ao redor da
Eucaristia, que somente tem ligar na mesa de Cristo quem comunga na vida dos
irmãos. É necessário sempre vigiar para que as tentações do particularismo, do
exclusivismos social, não impeça que caminhemos em sentido contrário ao projeto
de Deus.. Portanto, o Corpus Christi nos recorda antes de tudo que ser cristãos,
quer dizer: reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor
e tornar-se nEle um único povo para a glória de Deus Pai.
O segundo aspecto constitutivo
é o caminhar com o Senhor. É a realidade manifestada pela procissão, que
viveremos juntos depois da Santa Missa, quase como prolongamento natural da
nossa caminhada rumo ao céu. Nele nos movemos e somos atraídos pelo seus amor. Com o
dom de Si mesmo na Eucaristia, o Senhor Jesus nos liberta de nossas
"paralisias", nos faz "continuar o caminho",
nos faz dar um passo a mais, e depois outro, e assim nos coloca em caminhada,
com a força deste Pão da Vida que fortalece a alma para o combate espiritual.
Como acontece com o profeta
Elias, que se refugiou no deserto por medo de seus inimigos, e havia decidido
morrer no caminho (cfr I Re 19,1-4), mas Deus o despertou do sono e o fez
encontrar ali ao lado pão sem fermento e da graça divina a fortaleza de sua
alma: "Levanta e come – porque para ti o caminho é longo demais" (I
Re 19, 5.7). A procissão do Corpo do Senhor nos ensina que a Eucaristia nos
libertar de todo abatimento e desconforto. Ela nos arranca do medo que trava
nosso caminha rumo ao Reino. A experiência do povo de Israel no
êxodo do Egito, a longa peregrinação através do deserto, do qual falou a
primeira Leitura que impulsiona a nossa experiência do caminhada neste mundo. Uma experiência que para Israel é
constitutiva, mas se tornou exemplar para toda a humanidade cristã.
Por fim a Eucaristia é o
Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao
nossa lado e nos indica a direção. De fato, não basta caminhar, é preciso saber
para onde se vai! Não basta o "progresso", se não há critérios de
referência. Antes, se corre pela estrada afora, arrisca terminar em um
precipício, ou em todo caso se distanciar-se da meta há que ter um ideal a
alcançar. Essa horizonte Jesus veio revelar: adorar o Pai do céu.
Adorar o Deus de Jesus Cristo,
feito pão partido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as
idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de
liberdade. Quem se inclina para Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de
nenhum poder terreno, por mais forte que seja. Nós cristãos nos
ajoelhamos somente diante de Deus, diante do Santíssimo Sacramento, porque nele
sabemos e cremos estar presente o único e verdadeiro Deus, que
criou o mundo e o amou tanto que deu seu Filho unigênito (cf. Gn 3,16).
Nos prostramos diante de um
Deus que por primeiro se inclinou perante o homem, como Bom Samaritano, para
socorrê-lo e dar-lhe novamente a vida; aquele que se ajoelhou diante de nós
para lavar os nossos pés sujos pelo pecado. Adorar o Corpo de Cristo quer dizer
crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo, que dá
verdadeiro sentido à vida, seja ao imenso universo como à menor das criaturas,
à toda história humana como à mais breve existência.
A
adoração é oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística cuja alma
continua a nutrir-se: nutre-se de amor, verdade e paz; nutre-se, ainda mais de
esperança nas promessas do Filho. Porque Aquele ao qual nos prostramos
não nos julga segundo os critérios humanos, não nos expulsa, mas nos liberta e
nos transforma. Por isso reunir-nos para caminhar, adorar e prostrarmo-nos
diante daquele que é a nossa alegria. Fazendo-nos discípulos-missionários como
Maria, adoramos um só Deus em três pessoal e desejamos estar sempre aos pés da
cruz do Senhor. Que neste mês de maio que encerramos tenha manifestada em cada
um de nós a vontade de como a Virgem fazer tudo que o Senhor Mandar!
Pe. Fantico Borges, CM
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