quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Espiritualidade para casais


Espiritualidade para casais 


E a família, como vai? FAMÍLIA, COMUNHÃO DE PESSOAS.
Muito se fala da crise da família. Nos últimos tempos, no entanto, pudemos ver sinais na linha de  sua revalorização. Ela  continua sendo, apesar de todas as  transformações, o espaço primeiro e privilegiado de personalização e socialização, espaço de auto-realização, comunicação, lazer e afeto. Quando alguém não vive em família, essa lacuna se fará sentir para sempre, impedindo o amadurecimento  pessoal de  que se viu privado de casa, pai, mãe, tendo também sérias influências no ambiente externo. Disto estão convencidos psicólogos, assistentes sociais, sociólogos e educadores.  Na família acontecem as  primeiras experiências da vida, que tanta importância têm na configuração da maneira pessoal de se situar no mundo. Tudo o que acontece depois, na idade adulta servirá para modificar ou enriquecer essas experiências fundamentais. Quando elas forem dolorosas e negativas ocasionam danos que dificilmente podem ser superados (cf.  Pedro José Gómez Serrano,  La família, escuela de liberación, justicia ey solidariedad, in Sal Terrae 91 (2003), p 373ss)
A família não pode ser uma camisa-de-força. Em certas configurações de família do passado, marcadas pela supremacia masculina, em tempos em que  unidade familiar era mais do que tudo uma unidade de trabalho, nem sempre as pessoas eram respeitadas, de modo especial as mulheres e as crianças.  Filmes e livros não se cansam de mostrar os malefícios de uma certa família do passado.  Certamente, ela não pode se transformar, hoje, numa espécie de ninho quente  onde seus membros vivem uma espécie de célula “gostosa”, distante dos desafios do mundo. Uma tal concepção seria completamente danosa para os seus membros e para a sociedade.  Por vezes, tem-se a impressão de que cristãos das classes remediadas  vivem um familismo sem sentido e sem amanhã. A família é responsável pela transformação do mundo.
Na esteira do personalismo de  Emanuel Mounier, João Paulo II, ao descrever a família,  fala de uma comunhão de pessoas. “A família, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas, do homem e da mulher, dos pais e dos filhos, e dos parentes. A sua primeira tarefa é a de viver fielmente a  realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer uma autêntica comunidade de pessoas. O princípio interior, a força permanente e a meta última de tal dever é o amor: como, sem o amor a família não é uma comunidade de pessoas, assim, sem o amor, a família não pode viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas”  ( Familiares consortio, n. 18).
A família satisfaz  a necessidade básica de conhecimento, intimidade e de colaboração do ser humano e de sua libertação da solidão e do medo diante do futuro. Em seu seio há a oportunidade de ser desenvolvido o melhor que alguém carrega em si, de fazer uma integração de sua complexa personalidade e de sempre melhorar sua condição espiritual.
A dupla orientação na direção da liberdade e solidariedade, da unidade e da distinção exigem relacionamentos novos.  É indispensável relacionar-se, reconhecendo o valor pessoal, pois do contrário somos ilhas isoladas. No seio da família, âmbito de relacionamentos, experimenta-se a alegria de uns pertencerem aos outros. Assim, se deixa a rede de individualismo e se vive a comunhão solidária.  Benito Goya  afirma:  “O lar se converte em espaço de comunhão de pessoas adultas e estabelece entre os cônjuges um estilo existencial atraente e construtivo, que favorece o espírito de doação, de apoio mútuo e de compromisso em projetos comuns. Esta harmonia entre os esposos constitui uma base sólida para que também as relações filiais sejam gratificantes”  (La nueva família. Una espiritualidad de comunión, in  Revista de Espíritualidad (59) (2000) p. 48).
A família cristã  é aquela em que pais e filhos procuram configurar os relacionamentos interpessoais no lar a partir de atitudes e valores propostos pelo Evangelho, aquela que é construída e constituída sobre a fé em Cristo Jesus. No seu fundamento está o amor do casal que supõe as condições normais e as exigências para inauguração de qualquer vida conjugal: amor, responsabilidade, comunidade de vida. Ela reveste-se, no entanto, de diferente iluminação. Seus membros são de Cristo e querem ser mais dele. Morreram a si mesmos pelo Batismo e vivem numa célula de Igreja na Igreja. É por tudo isso, que o matrimônio é sinal do mistério nupcial de Cristo com a Igreja que se entrega ao amor do Pai na unidade do Espírito Santo. 
O Papa Paulo VI chamava a família cristã de Igreja doméstica, lugar onde se aprende o amor a Deus, a conviver e os valores cristãs.  O texto-base da Campanha da Fraternidade de 1994, rezava:  “A expressão Igreja doméstica designa a realidade mais profunda do casal e da família e se tornou expressão muito frequente em documentos recentes do Magistério para caracterizar a identidade mais profunda da família cristã. A exemplo da Igreja, ela é chamada a ser santuário da vida, que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. É ainda santuário onde se edifica a santidade e a partir de onde a Igreja e o mundo podem ser santificados. Lá se celebra e se anuncia a Palavra, se vive a vivência da reconciliação pelo perdão mútuo. Destarte, a família, através das quatro facetas do amor humano reproduz as quatro experiências de vida da própria Igreja: experiência de Deus como Pai, experiência de  Cristo como irmão, experiência de filhos em, com e pelo Filho, experiência de Cristo como esposo da Igreja” ( Campanha da Fraternidade/ 1994, n. 176).
Ninguém é coisa no seio das famílias, todos possuem sua identidade. Pessoas se encontram com pessoas. Pais, filhos, avós, esposos, todos procuram viver relacionamentos fraternos no reconhecimento do diferente sem indiferença. Ali vidas se interpenetram, ou seja, cultivam a inteligência, fortalecem a vontade e nutrem afetos. E essa célula se irradia para fora como matriz da sociedade. Nada de familismo, nada de famílias guetos, mas comunidades vigorosas que não se deixam enredar pelo consumismo, pelo hedonismo e pelo relativismo. Essas famílias assim solidificadas poderão fazer de sorte que as novas gerações não sejam joguetes do acaso e de uma sociedade sem sentido.
Mais do que nunca está em jogo a identidade de comunidade cristã. A mídia bombardeia com informações incompletas as consciências ainda em formação dos nossos jovens. Priva-lhes o acesso a verdade por meio de ilusões novelescas, manobrada diabolicamente para vender uma cultura relativista e pouco humanizada, onde a família não garante segurança, mas apenas consiste num espaço de possessivos domínio do mais forte.     

Construamos nossas famílias e pastorais moldados na sociedade do amor e da paz, conscientes que, a grande contribuição do cristianismo para pós-modernidade é exatamente a fidelidade ao mistério de Cristo, sempre atual nas pessoas, que tomando sua cruz sinceramente não se cansam de afirmar: Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida!
Perguntas:
1.      Na família acontecem as  primeiras experiências da vida, que tanta importância tem na configuração da maneira pessoal de se situar no mundo. Como você ver essa desvalorização da experiência familiar no desenvolvimento humano-cristão?
2.      Nada de familismo, nada de famílias guetos, mas comunidades vigorosas que não se deixam enredar pelo consumismo, comunidade familiar onde reine comunhão. Como contribuir para isso acontecer em sua casa? 

Pe. Fantico Borges, CM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...