Homilia de Pentecostes - Espírito Santo: Criador e doador de vida!
Veni, Sancte Spiritus! – Vinde, Espírito Santo!
“Sem a vossa força e favor clemente, nada há no homem que seja inocente”: são
palavras da sequência de Pentecostes, composta por John Dunstable (1380-1453) e
que foi provavelmente entoada na coroação do rei inglês Henry VI, em Paris, em
1431. Toda a Igreja clama: Vem, Espírito Santo! “Ó Deus (…) derramai por toda a
extensão do mundo os dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos
fiéis as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho” (oração
coleta da Missa do dia de Pentecostes).
O bispo emérito de Roma, Papa Bento XVI, escrevia
em sua última homilia de Pentecostes, que o Espírito Santo age desde do
princípio primeiro como Espírito Criador e por último como Espírito Salvador. O
Espírito Santo foi chamado alguma vez de “O Grande Desconhecido” (São Jose maria
Escrivá, Caminho, 57). Isso me faz lembrar aquela passagem dos Atos dos
Apóstolos na qual Paulo ao chegar a Éfeso, ao conversar com alguns discípulos
lhes pergunta: “Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?” Respondem eles da seguinte maneira: “Mas nem
sequer ouvimos dizer que existe um Espírito Santo” (At 19,2). Dá a impressão
muitas vezes que alguns cristãos nem sabem se existe um Espírito Santo. Quem é
o Espírito Santo? é a terceira Pessoa da
Santíssima Trindade, é “o Senhor e Doador de Vida, que procede do Pai e do
Filho, que com o Pai e o Filho recebe uma mesma adoração e glória e que falou
pelos profetas”. O Espírito Santo é Deus, como o Pai é Deus e como o Filho é
Deus. Ele é o Paráclito, o Consolador, enviado por Cristo para comunicar-nos a
vida divina. É ele quem nos introduz no Mistério de Cristo, é ele quem nos dá a
graça, as virtudes da fé e da esperança e da caridade, os dons e os frutos.
Quem é o Espírito Santo? É aquele que mora em você, o
doce hóspede da sua alma, foi ele quem o fez templo de Deus, filho de Deus,
membro da Igreja, quem lhe deu a salvação, a justificação e a vida eterna.
“Desde o nascimento da Igreja, é ele quem dá a todos os povos, o conhecimento
do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas”
(prefácio de Pentecostes).
Não podemos ignorar o Espírito Santo e seu poder.
Quando o Espírito Santo vem habitar em nós vem com o Pai e com o Filho.
Santa Teresa conta que, ao considerar certa vez a
presença das Três divinas Pessoas na sua alma, “estava espantada de ver tanta
majestade em coisa tão baixa como é a minha alma”, e então o Senhor disse-lhe:
“Não é baixa, minha filha, pois está feita à minha imagem” (Santa Teresa,
Contas de consciência, 41, 2). Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Quis Deus que essa semelhança fosse semelhança mesmo e nos fez participar de
sua natureza divina. É pelo Espírito Santo que nós participamos da natureza
divina. “Como não dar graças a Deus pelos prodígios que o Espírito não cessou
de realizar nestes dois milênios de vida cristã? O evento de graça do Pentecostes
tem, com efeito, continuado a produzir os seus maravilhosos frutos, suscitando
em toda a parte ardor apostólico, desejo de contemplação, empenho em amar e
servir com total dedicação a Deus e aos irmãos. Ainda hoje o Espírito alimenta
na Igreja gestos pequenos e grandes de perdão e de profecia, dá vida a carismas
e dons sempre novos, que atestam a Sua ação incessante no coração dos homens”
(João Paulo II, Homilia do Domingo de Pentecostes de 1998).
Pentecostes já era uma festa celebrada pelos judeus
cinquenta dias depois da Páscoa. No começo era uma festa na qual se dava graças
a Deus pela colheita da cevada e do trigo, era uma festa agrícola. Já no século
I, porém, tornou-se a festa que celebrava a aliança (o dom da lei e a
constituição do Povo de Deus). Cinquenta dias depois da Páscoa, os discípulos
de Cristo recebem o Espírito Santo, a lei na nova aliança no sangue de Jesus.
Também o Espírito Santo constitui a nova comunidade do Povo de Deus, a Igreja.
Nela, todos devem estar unidos em Cristo e na força
do Espírito Santo. As línguas de Pentecostes significam essa unidade do Povo de
Deus. Pentecostes é, então, o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9); em Babel, a
dispersão, aqui, a unidade. O Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho, é
também amor entre nós. Lembremo-nos que é sempre o amor que une os corações. O
amor, por ser conhecido propriamente somente pelos que se amam, é sempre muito
discreto. Daí a discrição do Espírito Santo: sua missão é levar a Palavra de
Jesus, ajudar a Igreja para que anuncie destemidamente a Palavra da salvação,
Jesus Cristo. Isso condiz com o Espírito Santo que é amor, já que o autêntico
amor sempre pensa mais no outro que em si mesmo.
O
Paráclito santifica-a continuamente, como também santifica cada alma, através
das inúmeras inspirações que se escondem em “todos os atrativos, movimentos,
censuras e remorsos interiores, luzes e conhecimentos que Deus produz em nós,
prevenindo o nosso coração com as suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor
paternal, a fim de nos despertar, mover, estimular para o amor celestial, para
as boas resoluções, para tudo aquilo que, numa palavra, nos conduz à nossa vida
eterna. A sua ação na alma é suave e aprazível; Ele vem salvar, curar,
iluminar,” (São Francisco de Sales). “O Espírito Santo vem em socorro à nossa
fraqueza”, diz S. Paulo (Rom. 8,26). Diz São João da Cruz que o Espírito Santo,
com a sua chama está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições
dos seus maus hábitos.
A Igreja precisa estar unida. Hoje terminamos a
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos; findamos a semana, não a oração
pela unidade dos cristãos. Todos nós, discípulos de Cristo, precisamos – é
importante para nós e para a evangelização – viver bem unidos: uma só fé, os
mesmos sacramentos, um só governo: o do Papa e o dos Bispos em comunhão com
ele. A divisão é vergonhosa para nós. “Celebrai, pois, este dia como membros do
único corpo de Cristo. E não o celebrareis em vão, se realmente sois aquilo que
celebrais, isto é, se estais perfeitamente incorporados naquela Igreja que o
Senhor enche do Espírito Santo e faz crescer progressivamente através do mundo
inteiro. (…) Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno
Pai gosta de morar; nela seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste espetáculo
da divisão entre seus filhos” (Dos Sermões de um Autor africano anônimo do
séc.VI).
As línguas de fogo no dia de Pentecostes simbolizam
a unidade da Igreja, ela falaria todas as línguas com a sua expansão; no
entanto, essa que falaria todas as línguas encontra-se toda ali, unida. Essas
línguas são de fogo. “O fogo simboliza a energia transformadora do Espírito
Santo” (Cat. 696). Também ao Espírito Santo poderia aplicar-se o simbolismo da
água, que significa “o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito
Santo” (Id.). Nós experimentamos a água e o fogo, ao mesmo tempo. Nascemos da
água e do Espírito no nosso Batismo (cf. Jo 3,5), a partir daí o Espírito Santo
começa uma ações muito especiais em nós que vai transformando-nos mais e mais.
São Basílio fala-nos da importância de estar com o Espírito Santo, ou melhor,
de que o Espírito Santo esteja em nós: “Por estarmos em comunhão com Ele, o
Espírito Santo torna-nos espirituais, recoloca-nos no Paraíso, reconduz-nos ao
Reino dos céus e à adoção filial, dá-nos a confiança de chamarmos Deus de Pai e
de participarmos na graça de Cristo, de sermos chamados filhos da luz e de
termos parte na vida eterna” (Liber de Sp. Sancto, 15,36, em Cat. 736).
Antes de Pentecostes, “Todos eles perseveravam
unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de
Jesus” (At 1,14). Peçamos nós também, em união com toda a Igreja e com Maria,
Mãe de Igreja: Vinde, Espírito Santo!
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